Fotografía de Herr_Mueller - The Good Life #1

La vasija de barro

 

LA VASIJA DE BARRO

Yo quiero que a mí me entierren
como a mis antepasados,
en el vientre oscuro y fresco
de una vasija de barro.

Cuando la vida se pierda
tras una cortina de años,
vivirán a flor de tiempo
amores y desengaños.

Arcilla cocida y dura,
alma de verdes collados,
barro y sangre de mis hombres,
sol de mis antepasados.

De ti nací y a ti vuelvo,
arcilla, vaso de barro.
Con mi muerte yazgo en ti,
en tu polvo enamorado


Vasija de barro es una composición musical con tono de danzante, conocida como "el himno no oficial de Ecuador". La letra hace referencia a los rituales mortuorios ancestrales del país como símbolo del deseo de volver a la Madre Tierra y fue escrita en 1950 por los poetas Jorge Carrera Andrade, Jorge Enrique Adoum, Hugo Alemán y el pintor Jaime Valencia. La melodía de la canción fue creada por Gonzalo Benítez.”

Wikipedia



“Recordando a Oswaldo Guayasamín en su vasija de barro”, de Carlos Lizama (26-9-2018) 


La canción, interpretada por Los Calchakis   



Claudio Rodríguez - En invierno es mejor un cuento triste

 

EN INVIERNO ES MEJOR UN CUENTO TRISTE

Conmigo tu no tengas
remordimiento, madre. Yo te doy lo único
que puedo darte ahora: si no amor, 
sí reconciliación. Ya sé el fracaso, 
la victoria que cabe
en un cuerpo. El caer, el arruinarse
de tantos años contra el pedernal
del dolor, el huir
con leyes a mansalva
que me daban razón, un cruel masaje
para alejarme de tí; historias
de dinero y de catres, 
de alquileres sin tasa, 
cuando todas mis horas eran horas de lobo, 
cuando mi vida fue estar al acecho
de tu caída, de tu
herida, en la que puse, 
si no el diente, tampoco
la lengua, 
me dan hoy el tamaño
de mi pecado. 

Sólo he crecido en esqueleto: mírame. 
Asómate como antes
a la ventana. Tú no pienses nunca
en esa caña cruda que me irguió
hace dieciséis años. Tú ven, ven, 
mira que clara está la noche ahora, 
mira que yo te quiero, que es verdad, 
mira cómo donde hubo
parcelas hay llanuras, 
mira a tu hijo que vuelve
sin camino y sin manta, como entonces, 
a tu regazo con remordimiento. 

Claudio Rodríguez


Alianza y condena (1965) 



Gabino-Alejandro Carriedo - Teoría de la agricultura

 

TEORÍA DE LA AGRICULTURA  

El labrador viene con su carga amarilla de panes
a medio cocer.
Viene por el sendero el labrador adormecido
con la pesada carga de los años,
saluda al prójimo con su mano encallecida
y mira, qué lástima, la tierra tan bonita,
con su puesta de sol, y el silencio, y los primeros cantos de los grillos
cuando los pájaros se han puesto a dormir,
qué lástima, con lo que cuesta todo,
piensa que no compensa romperse los huesos,
hacerse viejo y sentencioso y arrugarse
mientras se escucha, idéntica, la campana,
mientras el hijo salta del terrón al cuartel,
y viceversa.

El labrador acostumbrado a rascarse los bolsillos
mira la tierra que no es suya,
vuelve la vista atrás y contempla el panorama,
qué lástima, tan bonito que parece una tarjeta
postal, con los surcos, con la noria, con la remolacha,
con los sarmientos, con las gavillas, con los garbanzos
fidelísimamente retratados al atardecer,
cuando las amapolas tienen un brillo póstumo
y el labrador se acuerda de su padre
por el sendero si venía con la carga
de panes amarillos ya mirar se ponía
la serena amplitud de este paisaje
que había de comérsele.

Viene por el sendero adormecido
el labrador mirando a las hormigas, qué lástima, tan diminutas,
tan olvidadas, que cualquiera las pisa
sin que nadie por ello sienta atropellados
los derechos humanos.

Viene para cederle al hijo la herramienta.


Gabino-Alejandro Carriedo



Política agraria (1963), en Nuevo compuesto descompuesto viejo (Poesía 1948-1979), con prólogo de Antonio Martínez Sarrión, poesía Hiperion/Ediciones Peralta, 1980.



Henri Bergson

 

En paridad, toda sensación es ya memoria.

Henri Bergson, Materia y memoria (1896)



En El bazar de la memoria (Cómo construimos los recuerdos y cómo los recuerdos nos construyen), de Veronica O'Keane. Siruela, 2021




Un proverbio igbo

 

Al que se pasa de prudente lo mata la hoja que cae de un árbol.


Un proverbio del pueblo igbo, «una de las etnias más extendidas en África. La mayor parte de los igbos se encuentran en el sudeste de Nigeria, donde constituyen el 17 por ciento de la población; también pueden encontrarse en un número significativo en Camerún, Haiti y Guinea Ecuatorial.»

(Wikipedia)



Nigeria - Igbo Mask (National Museum of African Art, Wash. D.C.)
(Fotografía de Milton Sonn)



Titos Patrikios - Dos náufragos

 

DOS NÁUFRAGOS

Maderas, remos rotos,
dos náufragos en un tablón
combatiendo por ver quién ahoga al otro…

Eso fue lo que quedó
de la gran flota de la amistad juvenil.

Titos Patrikios


Traducción de José Antonio Moreno Jurado en Antología de la Poesía Neohelénica (La Generacion de 1940). Publicaciones de la Universidad de Sevilla, 1991






«Jorge Barbosa pela mão de António Lobo Antunes»



Conocí al poeta caboverdiano Jorge Barbosa y este poema suyo al leer Crónica da pomba branca (2008), de António Lobo Antunes. Ahí estaba esa "fininha melancolia"...


MOMENTO

Quem aqui não sentiu
esta nossa
fininha melancolia?

Não a do tédio
desesperante e doentia,
Não a nostálgica
nem a cismadora.

Esta nossa
fininha melancolia
que vem não sei de onde.
Um pouco talvez
das horas solitárias
passando sobre a ilha
ou da música
do mar defronte
entoando
uma canção rumorosa
musicada com os ecos do mundo.

Quem aqui não sentiu
esta nossa
fininha melancolia?
a que suspende inesperadamente
um riso começado
e deixa um travor de repente
no meio da nossa alegria
dentro do nosso coração,
a que traz à nossa conversa
qualquer palavra triste sem motivo?

Melancolia que não existe quase
porque é um instante apenas
um momento qualquer.


Jorge Barbosa 


Jorge Barbosa (Praia, Cabo Verde, 1902 - Cova da Piedade, Almada, 1971)



CRÓNICA DA POMBA BRANCA

O sítio onde moro em Lisboa é uma aldeia. Tem merceariazinhas, lojecas, cabeleireiros pequenos, uma constelação de restaurantezitos, sapateiros, costureiras, capelistas. Não o habitam pessoas ricas, o que se percebe pelos automóveis, pela roupa, pelas caras. Toda a gente se conhece. Há pombos a sujarem os tejadilhos (ainda bem que as vacas não voam) gatos à Stuart Carvalhais e, no que respeita ao meu quarteirão, do algeroz para cima sou o melhor escritor. Ignoro se sabem o que faço, julgo que têm uma ideia vaga. Há quem me trate por senhor doutor e quem me trate por senhor António. Prefiro senhor António: afinal de contas sou um carpinteiro. Aqui ao lado, sempre que saio, um grupo de reformados joga à moeda. Digo – Boa noite meus senhores desbarretam-se – Boa noite senhor doutor e o jogo continua atrás de mim, solene. É à hora alegre e triste em que os candeeiros começam a acender-se e uma fininha melancolia, como escreveu o poeta cabo–verdiano Jorge Barbosa (quem aqui não sentiu esta nossa fininha melancolia) entra devagar em nós, doce, quase agradável, com a lembrança das pessoas de quem gostámos dentro, transparentes, a sorrirem. Caixotes de lixo cambulhando para a rua. Mulheres sentadas na soleira e o senhor António passando por elas com o livro na cabeça e a saudade dos mortos. Há armazéns também, eternamente fechados. Nas janelas iluminadas lustres, ângulos de armário, prateleiras forradas e eu cheio de ternura por aquilo tudo. Nem um pingo de vento nas árvores. O que estarás a fazer? A entrar em casa, a jantar? Daqui a poucos dias desatam a tornar-se pequenos e o cinzento deles a desbotar no meu peito, a fininha melancolia engrossando. Jorge Barbosa Onde pára aquela que morava do outro lado da cidade, acolá no alto, de onde se via o mar? E onde páras tu, senhor António? Metes a chave no buraquinho, entras e a sala enorme, escura. Livros, quadros, retratos. Os cortinados escondem os prédios em frente, o escritório negro, negro. Onde pára aquela que morava do outro lado da cidade, acolá no alto, de onde se via o mar? Fininha melancolia vem e cobre-me. Não me abandones neste momento que preciso de coisas suaves, dedos na minha testa, uma voz que me garanta ter um lugar no mundo. Não derivado aos livros, pelo menino que sou. Que desamparo às vezes: tenho esperança de escondê-lo bem. Sou tão importante eu, sou um grande autor e acabei de nascer. Uma impressão num dente mas a perspectiva da broca – Ora cá temos uma cáriezinha desagrada-me. E os caixotes do lixo cambulhando para a rua. Vivo só. Não me custa. Quer dizer às vezes, à noite, custa, mas faz de conta que não custa. Ando a escrever um livro que não faço a menor ideia quando acabarei: são tão difíceis as palavras e demorei anos a dar conta disso. Ao princípio era canja. Até a gente perceber que há uma diferença entre escrever bem e escrever mal: então começa a angústia. Um pouco mais tarde percebe-se que há uma diferença, ainda maior, entre escrever bem e obra-prima: então a aflição é completa. De forma que aqui ando eu, de caneta na mão, na minha aldeia no centro da cidade em que acabado o jantar mulheres da vida, travestis. Bares de alterne perto, com uma fila de taxis à espera: tudo isso cheira a miséria rasca. Onde pára aquela que morava no alto da cidade? Num degrau à espera? Nasci de uma mulher e há ocasiões em que me esqueço disso. Devia lembrar-me o tempo inteiro. Onde pára o meu pai que, de certeza, se foi embora do cemitério para a companhia dos seus cachimbos, dos seus livros. Dizia – Bem vês e fazia um silêncio antes de continuar. Bem vejo o quê, pai? Os pais estão entre nós e a morte. Se calhar um homem só se torna homem depois do pai morrer. Homem no sentido mais profundo do termo, qualquer que tenha sido a nossa relação com ele. Depois do enterro do meu avô o meu pai fechou-se no escritório e pôs Bach tão forte que se devia ouvir na Venezuela. Ficou para ali horas a ensurdecer o mundo. Quem aqui não sentiu esta nossa fininha melancolia? Chamo-me António. Ao encontrar-me de manhã para a barba penso – Chamo-me António um nome tão comum, de pobre. Se fosse rico chamava-me Bernardo ou Lourenço ou Gonçalo. Assim, consolo-me com António. Apesar de tudo parece-me menos feio que Hernâni. O que importa? Chamo–me Eu. E o Eu debruçado para o papel nas redacções em que tenho gasto a vida. António porque os meus dois avôs eram Antónios. O que será de mim? Gosto do andar onde moro, não penso mudar-me mais, assenta-me bem nos ombros. António não: senhor António. Olha, se calhar envelheci. Cruzes canhoto: envelheci uma ova. Tenho quinze anos e vou para o treino de hóquei do Benfica. Nos intervalos não estudava e compunha versos, furioso com a sua mediocridade. O mendigo do costume pede-me cigarros: dou-lhe o que estou a fumar. Não fala, murmura, quase não se aguenta nas canetas. Nem sequer cheira mal, isto é ainda tão sujo que está para além dos cheiros. Olhinhos piscos, dedos incertos. Isto junto do templo adventista onde nunca vi ninguém entrar, frente a umas escadinhas que conduzem sei lá onde. Que bonitos os pés das mulheres agora, em Julho, que linda a sua forma de andar. Pouso a caneta, olho as minhas mãos. Estão vazias. Mas tenho a certeza que, se as juntar, ao abri-las sai uma pomba branca. Como os ilusionistas do circo na época em que eu menino. Aí está ela, cheia de arrulhos, a bater as asas em mim
.

António Lobo Antunes


Revista Visão (28-8-2008)


Una fotografía de Bernardo Estevinho




Bernardo Estevinho - (2008)  (Flickr)

 


Manuel Vicent - El tiempo huye

 

EL TIEMPO HUYE  

El tiempo huye y no hay forma de pararlo. Horacio en su famosa oda Carpe diem propone a su amante Leucónoe, como solución, que no piense en el futuro y que se agarre a los pequeños placeres que la vida le ofrece cada día. Esta oda ha sido muy manoseada por todos los vendedores de felicidad al por mayor con sus libros de autoayuda. Pero los verdaderos discípulos de Epicuro saben que no todos los días son buenos para agarrarse a ellos a modo de salvación, porque hoy el mundo está en poder de los criminales e idiotas, hasta el punto que hay días en que Horacio y su novia darían lo que fuera por quedarse en la cama. Por mi parte no tendría inconveniente en seguir el consejo del poeta latino siempre que ese día al que hay que agarrarse se me permitiera fabricarlo a mi gusto. Debería ser un día de abril, de junio o de septiembre con sus luces y sus frutos correspondientes. Me tendría que despertar el canto de los mirlos y durante una agradable somnolencia, después de estirarme como lo hace mi perra, mientras sonaba el concierto de Brandemburgo de Bach, comprobar con grata sorpresa que no me dolía nada del cuerpo ni del alma. Un sol amoroso de 25 grados me permitiría pasear junto al mar para sentarme luego a media mañana en una terraza a la sombra de los plátanos ante una cerveza fría y unas aceitunas amargas y leer el periódico en el que no habría noticias de niños destrozados por las bombas, ni políticos rebuznando. Luego tendría una comida divertida con amigos y precisamente ese día al caer la tarde se produciría esa llamada tan deseada. Una voz muy segura por teléfono me haría saber que el sueño que he acariciado durante tanto tiempo por fin se había cumplido. Nunca sabría quién me había llamado ni de qué sueño se trataba. Y de nuevo en la cama me gustaría quedar dormido con las gafas caídas en la punta de la nariz y unos poemas de Walt Whitman entre las piernas.

Manuel Vicent

(El País, 21 de enero de 2024)


Romance que dice: Arriba, canes, arriba

 

-¡Arriba, canes, arriba,
que rabia mala os mate!
en jueves matáis el puerco
y en viernes coméis la carne.
¡Ay, que hoy hace los siete años
que ando por este valle!
pues traigo los pies descalzos,
las uñas corriendo sangre,
pues como las carnes crudas,
y bebo la roja sangre
buscando triste a Julianesa,
la hija del emperante,
pues me la han tomado moros
mañanica de Sant Juan,
cogiendo rosas y flores
en un vergel de su padre.
Oídolo ha Julianesa,
que en brazos del moro está;
las lágrimas de sus ojos
al moro dan en la faz.




Ramón Andrés y los días que pasan

 

Como mesas marcadas por los platos y los vasos, así son los días.

Ramón Andrés


Poesía reunida. Aforismos. Edición de Andreu Jaume. Lumen, 2016.



Piedad Bonnett - Los estudiantes

 

LOS ESTUDIANTES  

Los saludables, los briosos estudiantes de espléndidas sonrisas
y mejillas felposas, los que encienden un sueño en otro sueño
y respiran su aire como recién nacidos,
los que buscan rincones para mejor amarse
y dulcemente eternos juegan ruleta rusa,
los estudiantes ávidos y locos y fervientes,
los de los tiernos cuellos listos frente a la espada,
las muchachas que exhiben sus muslos soleados
sus pechos, sus ombligos
perfectos e inocentes como oscuras corolas,
qué se hacen
mañana qué se hicieron
qué agujero
ayer se los tragó
bajo qué piel
callosa, triste, mustia
sobreviven.

Piedad Bonnett


Poesía reunida, Lumen, 2016




Francisco Calvo Serraller - Áyax (2009)

 

ÁYAX

Excavando en ese inagotable venero homérico de héroes, pero a la tenebrosa luz moderna de Shakespeare, el poeta griego Yannis Ritsos (1909-1990) escribió una impresionante serie de monólogos dramáticos, que ahora está traduciendo a nuestra lengua con esmero Selma Ancira. El último publicado es Áyax (Acantilado), que está tocado con la trágica hermosura que nimba la frente de los perdedores a los que, cierta vez, confunde la victoria. A juzgar por la continuada inspiración artística que, desde antiguo, ha suscitado el paradójico destino de este héroe griego legendario, a pesar de ser una figura de segundo rango dentro del panteón de campeones homérico, hay que aceptar que la vulnerabilidad del invulnerable Áyax tiene algo de profundamente conmovedor. Hijo de Telamón y de Eribea, Áyax acaudilla a los salaminos en la guerra contra Troya, donde por su gran corpulencia, valor y violencia enseguida destaca, primero al desafiar al temible Héctor, con quien combate durante una jornada entera sin ser derrotado; después, por proteger con su descomunal escudo a Menelao frente a las embestidas troyanas cuando éste trata de rescatar el cadáver de Patroclo; finalmente, por hacer lo mismo, junto con Odiseo, con el de Aquiles. Esta última piadosa y arriesgada acción será, no obstante, la causa de su perdición, porque no acepta el veredicto de sus pares de que las armas del ilustre muerto le sean entregadas a Odiseo en vez de a él, y, furioso, trata de asesinar a todos los jefes griegos, lo que no logra por la sobrenatural intervención de Atenea, que le enloquece hasta el punto de acuchillar a un rebaño de corderos y de cabras en lugar de a sus enemigos. Así, el pobre Áyax se vio además impremeditadamente ridiculizado, sirviendo su patético caso de modelo a Cervantes cuando éste imagina los diversos lances disparatados que enfrentan a don Quijote contra molinos y pellejos. Pero, a diferencia del hidalgo manchego, Áyax no supo nunca admitir la adversa suerte de no poder distinguir lo real en el momento crucial y se acabó dando muerte con su propia espada. Ritsos le hace hablar durante la vigilia nocturna que precedió a su suicidio con la quebrada voz de un desconcertado despecho. Se siente lastimado por la injusticia y trata de consolarse imaginando que sus enemigos "un buen día también se encontrarán desnudos frente a la noche y su largo camino". Pronto, los lamentos e imprecaciones de Áyax se ceban con él mismo y no le queda más que escribirse un sabio y triste epitafio: "Pero no, que no me recuerden. ¿Acaso importa? Me basta / con lo que encontré al perderlo todo". Al llegar ahí, es casi imposible dar la vuelta a una situación que ya no permite otra intimidad que la de la muerte, cuya tenaz mano amistosa es la única capaz de responder en pie de igualdad a quien sea. Adivinarlo, es lo único que calma al airado Áyax, que, al amanecer, se despide, con un acento de alivio, de Tecmesa, su concubina troyana y la única verdaderamente preocupada por el negro sino de su desesperado captor: "Voy a lavarme, a lavar mi espada -tal vez encuentre / yo un ser con quien hablar. / Qué hermoso día, -¡oh, resplandor del sol, dorado / río!- Adiós, mujer".

Francisco Calvo Serraller


(El País, 21 de febrero de 2009)




(Versos originales de Ritsos: Πάω να πλυθώ, να πλύνω το σπαθί μου· — ίσως και βρω έναν άντρα να τα πούμε. / Τί όμορφη μέρα, —ω φέγγος του ήλιου, ποτάμι χρυσό— Γεια σου, γυναίκα.)


Una fotografía de George Kuttner

 


George Kuttner - Something In Her Eye June, 2019   (Flickr)




«Amores» en el Diccionario de Autoridades (1726)

 

Diccionario de Autoridades - Tomo I (1726)

AMORES. En nuestra léngua se toma por los amores prophános y lascívos, que son los que tratan los enamorádos. Lat. Amatoriae blanditiae. FUENM. S. Pio V. fol. 109. Porque Henrique trataba amóres con una dama de su muger. CERV. Quix. tom. 1. cap. 12. Se mormúra que ha muerto de amóres de aquella endiablada moza de Marcéla. BURG. Gatom. Sylv. 6.

En mis ojos brillaba
Primero que en las flores,
A su ventána repitiendo amóres



Carmen Martín Gaite - Tres eran tres

 

TRES ERAN TRES   

Tres eran tres mis bienes de antaño:
tu letra, tu voz y un pañuelo blanco.

Tu letra entre miles reconocería,
la T de "te quiero", el A de "alma mía";
tu voz brasa y miel en la noche fría.
Y desde el balcón, al rayar el día,
el pañuelo "vuelve" y "adiós" te decía.

Tres eran tres mis bienes de antaño,
y los tres son hoy recuerdo aventado.

Tu voz se me pierde por esos barrancos,
las cartas las lleva el viento a otro lado.
Ni letra, ni voz,
ni el pañuelo sabe
a quién dice adiós.

Carmen Martín Gaite


Poemas (2001)



Bocage + Alexandre O’Neill - «Auto-retratos»

 

Manuel María Barbosa du Bocage (1765 - 1805) - Retrato gravado a buril e água-forte por Joaquim Pedro de Sousa



AUTO-RETRATO

Magro, de olhos azuis, carão moreno,
Bem servido de pés, meão na altura,
Triste de facha, o mesmo de figura,
Nariz alto no meio, e não pequeno;

Incapaz de assistir num só terreno,
Mais propenso ao furor do que à ternura;
Bebendo em níveas mãos, por taça escura,
De zelos infernais letal veneno;

Devoto incensador de mil deidades
(Digo, de moças mil) num só momento,
E somente no altar amando os frades,

Eis Bocage em quem luz algum talento;
Saíram dele mesmo estas verdades,
Num dia em que se achou mais pachorrento.


Bocage



AUTO-RETRATO

O'Neill (Alexandre), moreno português,
cabelo asa de corvo; da angústia da cara,
nariguete que sobrepuja de través
a ferida desdenhosa e não cicatrizada.
Se a visagem de tal sujeito é o que vês
(omita-se o olho triste e a testa iluminada)
o retrato moral também tem os seus quês
(aqui, uma pequena frase censurada...)
No amor? No amor crê (ou não fosse ele O'Neill!)
e tem a veleidade de o saber fazer
(pois amor não há feito) das maneiras mil
que são a semovente estátua do prazer.
   Mas sofre de ternura, bebe de mais e ri-se
   do que neste soneto sobre si mesmo disse...

Alexandre O'Neill


Poemas com Endereço
(1962)


 Alexandre O'Neill (1924 - 1986)



César Cantoni- Álbum de familia

 

ÁLBUM DE FAMILIA

Murió mi padre, murieron mis abuelos,
murieron mis tíos carnales y políticos.
Una familia entera de herreros,
ebanistas, curtidores, albañiles,
yace ahora sin fuerzas bajo tierra.

Y yo, el más inútil de todos,
el que no sabe hacer nada con las manos,
he logrado sobrevivir impunemente
para llorar delante de una foto
lo mejor de mi sangre.

César Cantoni

(La Plata, 1951)



Del libro La Salud de los condenados (2004)


Juan del Encina - «Ojos garzos ha la niña…»

 

Ojos garzos ha la niña:
¡quién se los namoraría!

Son tan bellos y tan vivos
que a todos tienen cativos,
mas muéstralos tan esquivos
que roban el alegría.

Roban el placer y gloria,
los sentidos y memoria;
de todos llevan vitoria
con su gentil galanía.

Con su gentil gentileza
ponen fe con más firmeza
hacen vivir en tristeza
al que alegre ser solía.

No hay ninguno que los vea
que su cativo no sea.
Todo el mundo los desea
contemplar de noche y día.

Juan del Encina


(Fermoselle, 1468 - León, 1529)



John Donne y Philip Roth

 

La vejez es una enfermedad, la juventud es una trampa.

John Donne


La vejez no es una batalla, la vejez es una masacre.

Philip Roth


Old age isn't a battle; old age is a massacre.


Manuel António Pina - «Outros livros lidos, outra pessoa afinal»

 

Às vezes pergunto-me quem raio seria eu se, em vez de ter lido os livros que li, tivesse antes lido os que não li. Provavelmente cruzar-me-ia comigo mesmo na rua e não me reconheceria.

Manuel António Pina




Manuel António Pina (1943 - 2012)



Eduardo Galeano - Fuegos

 

FUEGOS

Cada persona brilla con luz propia
entre todas las demás.
No hay dos fuegos iguales.
Hay fuegos grandes y fuegos chicos
y fuegos de todos los colores.
Hay gente de fuego sereno, que ni se entera del viento,
y hay gente de fuego loco, que llena el aire de chispas.
Algunos fuegos, fuegos bobos,
no alumbran ni queman;
pero arden la vida con tantas ganas
que no se puede mirarlos sin parpadear,
y quien se acerca, se enciende.

Eduardo Galeano



Giusto de' Menabuoi - La creación del mundo

 


Giusto de' Menabuoi (1320 - 1391) - La creazione del mondo, battistero di Padova  

 

 

(scan from own photo of  Yukio Sanjo, aquí)